terça-feira, 8 de novembro de 2016

Prelúdio de Outono





PRELUDIO DE OUTONO

(...)Num indisposto acordar
De um profundo e longo sono
O Outono ergue suas pálpebras
Com olhar pesaroso
Vislumbra agora a paisagem, 
de que é senhor e dono...
O chilrear da passarada,
Deixando vago seu pouso 
com indiferente desapego...
Partindo em frenética debandada,
Num bater de asas em desassossego
Num outro lugar, noutras paragens
Abrem asas e procuram sem medo
Um novo lar, com mais aconchego...
..."numa expressão, nem tarde, nem cedo"...
Inquilinos de asas, deixam vagas as árvores
Senhorias de zelo, quedam-se tristonhas
Sentidas com tal desprezo,
Pois, lhes tinha muito apego!...
Morna aragem, breve será gelo
Queimará a terra como fogo...
O astro menor, entediado
Torna-se dono, senhor e proprietário
Da ainda morna paisagem...
Como ditador, não tardará a transformá-la
Em desoladora frente de batalha
Sem guerreiros vitoriosos, sem vivas,
glórias ou medalhas...
Mas, por um silêncio devastador
de queda, inigualável e assinalado
como importante data, 
em todo e qualquer calendário...
Patrono repleto de crueldade
Pleno de rigidez normativa
..."Quem da terra nasce, nela se finda"...
Naquela, já nebulada localidade
O vento, chuva e frio, são sua intenção
A razão de ser da sua imagem....
Apossa-se do seu trono,
dele faz por algum tempo sua casa!
Folhas olham as árvores
De coloração triste e envergonhada
Despidas de outrora luxuriante folhagem
Jazem no chão, sob a terra molhada
Desmaiada cor, amarelecida
Com um olhar de indefinida desolação...
Brevemente serão lixo,
Como servas, que á terra entregam
Sua beleza em sacrifício...
Velha podre existência etérea.
Agora despidas de folhagem, 
Nuas de sua fortuna e pretensão
Erguem ao céu, desnudos troncos roliços
Em atitude de prostração
Murmúrios gesticulando
Pelo vento chicoteadas,
como um pedido de perdão!...
Presente retrato de humilhação
Perante um passado verde
Agora amarelecidas e velhas, 
Ao sabor do vento, arrastando-se no chão(...)

Até Ontem

Ana Rosa Cruz

Arte: Liu Yuanshou






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