quarta-feira, 6 de julho de 2016

Vómito





VÓMITO

Descem-me à boca as palavras
Soltas das isquemias de raiva
Rasgando-me a garganta
Vomito-as em cima da minha mão
Leio-as uma a uma
Como cerne da minha questão.
Elas pensam por mim...
Sabem tudo o que não sei
São o meu vómito
O meu mau estar
O reflexo da minha indisposição
O que resta da minha existência
Esquecida e indisposta
Decomponho-me lentamente
Sem me aperceber
Sem que nada exista
Para comprovar a existência eterna
Sem perdão
Ninguém tem o dom de perdoar
Esta indisposição da minha razão
A decomposição extingue-se
Com o ponto de interrogação
São sempre iguais as respostas
Quando perguntadas à memória.
Como tudo é tão diferente
Sem deixar de ser o mesmo
Como se transformasse noutra
Sem deixar de ser ela mesma
É tudo fruto da mesma árvore
Com frutos que se decompõem
Sem deixarem de ser "os prediletos
do conceito da necessidade
de todos e de ninguém".
Decompostos pelo sentido da saliva
De forma selvática e feroz
Que amargam no meu esquecimento
Arranhando a garganta da idade
Tocando badaladas azedas
De tantas incertezas.
Pergunto às palavras vomitadas
Como vai ser depois
De tudo continuar na mesma
Quando minha imagem
Já não fizer plagio
Há no meu esquecimento a lembrança
Guardada em mim lá longe
Na minha lembrança extasiada...
E tudo morre no meu nome!

Até ontem

Ana Rosa Cruz Pinto



Sem comentários:

Enviar um comentário