sábado, 23 de julho de 2016

Amanhecer





AMANHECER

Apagam-se as luzes
A escuridão ilumina o meu espaço
Surge o meu negro pássaro
Em voo picado, pensamentos purpurados
Entrego-me ao seu voar, sem máscara
Na área de um vazio, sem nada
Começa o meu desabafo com a vida
Monólogo trifásico
Onde somente existe um palhaço
Eu, a raiva e um cigarro!
O fumo, estende suas asas e evade-se 
Voa pela janela do quarto
Absorção ávida da nicotina
Estendo minha ácida vida ao vício
Naquele aconchego fatal
Entre uma e outra passa
A vida esvai-se, nas dilatadas retinas
Desabotoo os botões sombrios da alma
Pergunto a razão de estar vivo
Qual a razão da minha miserável vida?
A resposta, está em todo o lado
Num silêncio calado de mais um cinzeiro,
Cheio de inconscientes piriscas, amortalhadas
A um papel amarelecido e amarrotado
Que comigo trago no bolso da alma.
Entorno sentimentos em palavras
Liberto meus fantasmas!
No ambiente lúgubre duma vela
De chama moribunda, quase apagada
Sentimentos reprimidos e magoados
Irrealizados e com mágoas bem antigas
Meu retrato evapora-se pelos poros
Tão longe e perto de mim, abrem feridas
Em momentos fúnebres, ressuscito mortos
Procuro-me no que está escrito
Letras sumidas, palavras invertidas
Ou talvez alucinadas!
Encontro-me nos espaços em branco
Brechas no tempo, que ferem 
Como afiada e cortante navalha
Misturo lágrimas que mancham
A minha forma de ver o mundo
Gritos de silêncio entalados na garganta
Quem me dera, deles fazer lembrança
O tempo esgotou a noção de esperança
Tenho noção que há espaço para mim
Neste mundo escuro e obscuro
Vivo num vazio, sem eco
Não tenho a força da parede
Sou o eco que se encerra em si mesmo
O trifásico!
Eu, o espaço apertado e o cigarro...
Até que amanheça desabafo e passo-me
Sem que algo, passe por mim
Passo-me naquele quarto apertado!

Até ontem

Ana Rosa






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