domingo, 31 de janeiro de 2016

Termo





TERMO

Chegou o fim
Mãos trémulas
D'uma vida deformada
De vontades forçadas
Lágrimas já fatigadas
Esquecidas, fora de tempo
Depois de derramadas
Nas profundezas do entendimento
Abandonadas na outra margem
Com bem fundeada âncora

Olhar de tréguas 
Encalhado com descontentamento 
Restos sistémicos 
De si e em si têm assento... 
Corroía-se ao balançar 
Lambia as feridas do tempo 
Que sarar não queriam... 
Roendo caroços do tempo 
Ouvia-se o ranger de dentes
Entrando pela noite dentro 
Como navio de casco rombo
Já sem qualquer conserto 
Que a dor abandonou ao relento

Já sem nada sentir,
Estendia-se no vazio
De clemências não aparentes
Como quem pede a remissão
Nada mais poderia sentir
Somente a dor
D'um desnudado punhal
Na sua derradeira missão

A areia esvaía-se pelos dedos
Nas suas mãos frias
Fechava os olhos
Cerrava os dentes
No anoitecer dos medos
Abandonava-se...
Nas profundezas de si mesmo
Já nada temia!

Sentia-se o isco da tempestade
Que sugava o seu espírito
Já todo ele anestesiado
Só a alma ainda resistia
E o mantinha à tona da vida
Com uma réstia de vontade.

Assim termina o trajeto
A dois escassos nós
Bem ali à sua frente
Algo mais teria lugar
E bem se poderia ter feito...
Antes do termo

Até ontem

Ana Rosa




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