quarta-feira, 26 de abril de 2023

Arte Kemal Kamil


 



Filhos meus


(...) São meus, os filhos da noite!...

Sem os ter desejado, ou querido

Vestidos de pele rasgada e uivo ferido

Conheço seus trilhos, seu latido

Seus minutos e segundos

Seu olhar negro triste e perdido, 

Famintos sorrisos moribundos

Sem céu e terra, sem presente,

 passado e futuro!

São navios de papel encalhados

Nas correntezas d'um rio

No punho do meu verso acolhidos

Como anjos caídos salvos no beiral d'um abismo

Todos eles surgiram da noite,

num devagar desnutrido

Ao seu açoite fugindo 

Um a um, lhes reconheço os passos

As marcas do passado

Seu desejo de horizonte

Seu trémulo riso

Deles reconheço de cor o rosto

Diferentes sentidos

Seus modos diversos, ao cantar alegres cantos, 

com tristes versos... 

Fugindo do vazio, frutos de uma quimera

De longas horas de espera

São meus, sem os ter parido

De mãos unidas hoje, 

Esperamos cada manhã, orando a mesma reza!... (...)



Ana Rosa Cruz


Conceição Cruz


Crcruz61@/Direitos reservados ao autor





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