quarta-feira, 8 de junho de 2016

Crepúsculo





CREPÚSCULO

De voz cansada e sombria
Imponente catedral, de cúpula erguida
Onde até há pouco em seu altar
Iluminava um castiçal antigo
Derreteu-se aos poucos a cera
Num lacrimejo lamentado e enrijecido
Caindo num gasto consentido 
Agonizando em pingos de tristeza

Num silencioso consentimento
A luz aos poucos de si se esvai
Crepuscular e sombrio momento
Sombras que dele se farão ressuscitar
Fiadas canónicas de grãos de poeira
Que pairam no ar, procurando lugar
Para em qualquer canto repousar

O mocho irá sobrepor-se
Muito em breve com seu piar
Ao canto alegre e estridente
Da cotovia com seu cantar!
Tudo é breve nesta sinfonia
Cadente, ritmada e silenciosa
Mas sem nunca desafinar

O dia inclina-se em suas vestes tristes
Despe seu corpete apertado
De mais um dia passado
Liberta-se da retida claridade 
O cricrilar dos grilos perfura os tímpanos
No horizonte, o sol já pouco ilumina
O dia aos poucos se apaga
Num hibernar sentido
Tomando o seu lugar imagens tristes
Distorcidas e sombrias

O aroma do dia esvai-se de forma fraterna
É hora de virar mais uma página
Do livro de mais um manso dia
E ouvir outra melodia, um tanto inquietante
Reclamando ilusório descanço
Ao virar de cada ingreme esquina

Até ontem

Ana Rosa






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