quarta-feira, 26 de abril de 2023

A Carne do verso


Carne do Verso


(...) Canta! 

Procura na vida o que é mais perfeito!

Olha o sol como sendo teu guia

Sonha a noite... 

E com ela, aspira um novo dia!

Como flor, florindo 

em cada manhã 

aconchega-a no teu peito!

Da terra materna faz teu leito

respira-a, bebe-lhe o luar

e nunca lhe tenhas receio!

Muitas vezes sem estrelas 

com ar crispado o céu parece pensativo, 

azedo e peocupado ...

Mas confia!

Faz de cada pena uma alegria

Traz contigo um sorriso 

de algum mal insatisfeito!

Colhe as flores do jardim

Todos os sonhos do universo

Eterniza cada momento 

como unico e secreto!...

Fecha os olhos e sabe aceitar o sofrimento!

Terás feito com teu gesto a carne,

 do teu próprio verso!..(...)


Ana Rosa Cruz



 

Arte Kemal Kamil


 



Filhos meus


(...) São meus, os filhos da noite!...

Sem os ter desejado, ou querido

Vestidos de pele rasgada e uivo ferido

Conheço seus trilhos, seu latido

Seus minutos e segundos

Seu olhar negro triste e perdido, 

Famintos sorrisos moribundos

Sem céu e terra, sem presente,

 passado e futuro!

São navios de papel encalhados

Nas correntezas d'um rio

No punho do meu verso acolhidos

Como anjos caídos salvos no beiral d'um abismo

Todos eles surgiram da noite,

num devagar desnutrido

Ao seu açoite fugindo 

Um a um, lhes reconheço os passos

As marcas do passado

Seu desejo de horizonte

Seu trémulo riso

Deles reconheço de cor o rosto

Diferentes sentidos

Seus modos diversos, ao cantar alegres cantos, 

com tristes versos... 

Fugindo do vazio, frutos de uma quimera

De longas horas de espera

São meus, sem os ter parido

De mãos unidas hoje, 

Esperamos cada manhã, orando a mesma reza!... (...)



Ana Rosa Cruz


Conceição Cruz


Crcruz61@/Direitos reservados ao autor





segunda-feira, 4 de abril de 2022

Chamas


Chamas


(...) ... Recordo;

Com tristeza no olhar e saudade infinita 

A porta da entrada que dava para a rua

Assomava a história da nossa vida,

Olho-a agora, com expressão entristecida

Dela, somente resta o meu sentir nesta escrita

Onde tantas vezes chama de amor,

Em mim, teu olhar ternuras acendia

Chamas de amor, com que me deixavas, 

Despida ou quase nua;

Côncava ternura, entardecidos teus dedos

Ao longo da minha cintura, 

apertavas-me junto a ti

Tocavas-me no topo da loucura;

Meu corpo dissimulado pelo vestido,

Abria os botões, um a um e misturavamo-nos

Em dois ardentes corpos nus...

Amava-te tanto; 

Jamais esquecerei, tuas meigas caricias,

Eras o sol de minha vida; 

Tudo em ti era diferente, insubstituível

Aquele sabor doce que transportavas

Tua língua, enlouquecia-me

Transformava os cansaços em gemeres de alegria

O nosso cheiro, tinha musica, 

Claves de alegria sustenida...

Em mim, não passarão ao esquecimento, nunca

Nosso amor era tão secreto no aconchego,

Como silencio, que toca levemente

os seios de madrugada... 

Nunca, por mais anos que viva, 

assim, serei tão amada!..

Já nada sinto por ninguém por mais que viva,

Será numa tristeza infinda 

Somente me deixaste tuas lembranças

De ser amada como desejava e queria, 

Com euforia fui beijada e muito amada; 

Duvido até, que haja alguém como eu,

o tenha sido na vida!

Beijava-te e mais um beijo eu te pedia

Nossos lábios ficavam doridos;

Nossas bocas devoravam o mundo

Não havia entre nós lacunas,

nosso amor tudo preenchia...

Morava tudo nele e mais nada lá cabia

Nada era resumido, ao essencial ou insípido

Até que um dia, o sabor do teu beijo,

teve gosto de despedida...

O mundo caiu, com um absurdo estrondo

Perdi o amor de minha vida;

Deixei de ser aquela mulher, de que alguém

espera vinda...

Em minha boca trago o fel, amargo e recolhido,

Carrego comigo desfastio e enlutado sorriso

Como sombrio jazigo...

A porta da entrada esta trancada!

Pois, dela já não se faz serventia!

Em minha vida, há e sempre haverá, alguém,

...alguém insubstituível... (...)



 Ana Rosa Cruz



 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Flor seca



“ Uma flor quando começa a secar, 

não é apenas uma flor seca!…

É uma flor!…

Mais o tempo que a sustenta!…”


Ana Rosa Cruz

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Falua



Falua

(...) Quando é que o homem
começa a entender,
Que o tempo, nada tem
para nos dar?
Tudo ele nos tira!
Sem poder reclamar!
Nunca o desejem aprisionar!
Ele é punho, murro,
vento em fúria!
Viaja em frente .... Sem nunca recuar!...
Viajar no tempo, é uma aventura!...
Como despertar
em linda madrugada,
que logo se esvai,
Num atormentado dia de chuva!
O tempo é e sempre será,
sol de pouca dura!
... O tempo é uma Falua!
Barca que entre margens,
sob águas flutua!
Trazendo e levando mensagens
Às vezes difíceis de entender!
... Quem o não souber escutar
e aceitar, se transformará
em maçã por colher,
que logo no chão cairá,
de tão madura!
O tempo leva e traz,
é movimento,
é lembrança do esquecimento!
Tarde ou cedo marcará
todo nosso corpo
com irrecusável
e elevada fatura!...(...)

Ana Rosa 
🌹
 Cruz
Arte: Ettore Aldo Del Vigo